quarta-feira, 10 de novembro de 2010

"A ALMA"




"Há outra palavra sobre a qual devemos igualmente nos entender,

por constituir em si um dos fechos de abóbada, isto é, a sustentação

de toda a doutrina moral, e que se tornou objeto de muitas sias por falta de um significado que a defina com precisão determinada.

É a palavra alma. A divergência de opiniões sobre a natureza da

alma resulta da aplicação particular que cada um faz dessa palavra.

Uma língua perfeita, em que cada idéia tivesse sua representação por

um termo próprio, evitaria muitas discussões; com uma palavra para

cada coisa, todos se entenderiam.

Segundo alguns, a alma é o princípio da vida material orgânica,

não tem existência própria e termina com a vida: é o materialismo

puro. É nesse sentido e por comparação que se diz de um instrumento

rachado quando não emite mais som: não tem alma. De acordo com

essa opinião, a alma seria um efeito e não uma causa.Outros pensam que a alma é o princípio da inteligência, agente

universal do qual cada ser absorve uma porção. De acordo com esse

pensamento, haveria para todo o universo apenas uma única alma

que distribui suas centelhas entre os diversos seres inteligentes

durante a vida. Após a sua morte, cada centelha retornaria à fonte

comum, onde se misturaria no todo, como as águas dos riachos e dos

rios retornam ao mar de onde saíram. Essa opinião difere da anterior

apenas em que, nessa hipótese, há no corpo mais do que a matéria e

que resta alguma coisa depois da morte; mas é quase como se não

restasse nada, uma vez que, incorporando-se ao todo de onde veio,

perde a individualidade e, assim, não teríamos mais consciência de

nós mesmos. De acordo com essa opinião, a alma universal seria Deus e

cada ser, uma porção da divindade. Essa é uma variante do panteísmo

3 comentários:

  1. E por fim, segundo outros, a alma é um ser moral, distinto e independente
    da matéria, que conserva sua individualidade após a morte.
    Essa concepção é, indiscutivelmente, a mais generalizada, visto que,
    sob um nome ou outro, a idéia desse ser que sobrevive ao corpo se
    encontra como crença instintiva e independentemente de qualquer
    ensinamento, entre todos os povos, seja qual for o grau de sua civilização.
    Essa doutrina, segundo a qual a alma é a causa e não o efeito,
    é a dos espiritualistas.
    Sem discutir o mérito dessas opiniões, considerando apenas o
    lado lingüístico da questão, diremos que as três aplicações da palavra
    alma constituem três idéias distintas e que, para serem claramente
    expressas, cada uma precisaria de um termo diferente. A palavra tem,
    portanto, uma tríplice significação e cada uma tem razão em seu ponto
    de vista, na definição que lhe dá. O problema é a língua ter apenas
    uma palavra para designar três idéias. Para evitar qualquer equívoco,
    seria preciso aplicar o significado da palavra alma a uma dessas três
    idéias. Escolher qualquer uma é indiferente, é uma questão de ajustede opiniões; o importante é que nos entendamos. Acreditamos mais
    lógico tomá-la na sua concepção mais comum; é por isso que denominamos
    ALMA o ser imaterial e individual que existe em nós e que
    sobrevive ao corpo. Ainda que esse ser não existisse e fosse apenas
    um produto da imaginação, seria preciso assim mesmo um termo para
    designá-lo.

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  2. Na falta de uma palavra especial para cada uma das outras duas
    idéias, denominamos princípio vital o princípio da vida material e orgânica,
    qualquer que lhe seja a origem, e que é comum a todos os
    seres vivos, desde as plantas até o homem. Podendo existir vida sem
    depender da capacidade de pensar, o princípio vital é assim uma propriedade
    distinta e autônoma. A palavra vitalidade não daria a mesma
    idéia. Para alguns, o princípio vital é uma propriedade da matéria,
    um efeito que se produz quando a matéria se encontra em determinadas
    circunstâncias. Segundo outros, e esta é a idéia mais comum, ele
    se encontra num fluido especial, universalmente espalhado e do qual
    cada ser absorve e assimila uma parte durante a vida, como vemos
    os corpos inertes absorverem a luz. Este seria, então, o fluido vital,
    que, segundo algumas opiniões, seria o fluido elétrico animalizado, designado
    também sob os nomes de fluido magnético, fluido nervoso, etc.O que quer que ele seja, há um fato que não se poderá contestar,
    porque é resultante da observação: é que os seres orgânicos têm em
    si uma força íntima que produz o fenômeno da vida, enquanto essa
    força dure; que a vida material é comum a todos os seres orgânicos e
    é independente da inteligência e do pensamento; que a inteligência e
    o pensamento são capacidades próprias de algumas espécies orgânicas;
    e que, enfim, entre as espécies orgânicas dotadas de inteligência
    e de pensamento, há uma que é dotada de um senso moral especial
    que lhe dá uma incontestável superioridade sobre as outras: é a
    espécie humana.

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  3. Concebe-se assim que nem o materialismo nem o panteísmo
    excluem em suas teorias a noção de alma por causa do significado
    abrangente que se lhe pode atribuir. Mesmo o espiritualista pode entender
    muito bem a alma segundo uma das duas primeiras definições,
    sem reduzir o ser imaterial distinto ao qual dará um nome qualquer.
    Assim, a palavra alma não representa uma idéia única; é um
    Proteu que cada um acomoda a seu gosto, daí a fonte de tantas disputas
    intermináveis.
    Ao se utilizar da palavra alma em qualquer dos três casos, teríamos
    uma idéia clara ao lhe acrescentar um qualificativo que especificasse
    o ponto de vista a que se refere, ou a aplicação que se faz dela.Seria, então, uma palavra genérica, representando ao mesmo tempo
    o princípio da vida material, da inteligência e do sentido moral, mas
    que se diferenciaria por um atributo, como o gás, por exemplo, que se
    distingue quando lhe acrescentamos as palavras hidrogênio, oxigênio
    ou azoto. Assim é que deveríamos compreender a alma vital para designar
    o princípio da vida material; a alma intelectual para o princípio da
    inteligência que se expressa enquanto há vida e a alma espírita para
    o princípio de nossa individualidade após a morte. Como se vê, tudo isso
    é uma questão de palavras, mas uma questão muito importante para
    entender. De acordo com isso, a alma vital seria comum a todos os seres
    orgânicos: plantas, animais e homens; a alma intelectual seria própria
    dos animais e dos homens; e a alma espírita, apenas do homem.Acreditamos dever insistir nessas explicações, porque a Doutrina Espírita
    baseia-se naturalmente na existência em nós de um ser independente
    da matéria e que sobrevive à morte do corpo. Como a palavra alma
    deve aparecer freqüentemente no decorrer desta obra, é importante
    saber o exato sentido que lhe damos, a fim de evitar qualquer equívoco.
    Vamos, agora, ao ponto principal desta instrução preliminar."

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